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Carros 1.0 pagam menos impostos do que medicamentos

Ao responder uma pergunta durante a coletiva de julho sobre a possibilidade de o governo voltar a reduzir temporariamente o IPI para carros de passeio, como ocorreu no governo Lula, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, afirmou que o que é preciso é a redução definitiva da carga tributária sobre veículos, que, na opinião dele é alta e injusta.

O dirigente disse que o sistema tributário no Brasil é distorcido e que deveria ser redimensionado para ficar “num patamar aceitável”.

É verdade que a carga tributária no Brasil é alta, mas não só para veículos automotores e sim para quase todos os produtos de consumo. Mas chamar de injusto um imposto de 27,1% sobre um produto que apenas 2% da população têm acesso não parece razoável.

Esse índice, aplicado ao carro com motor 1.0, que representa metade das vendas no Brasil, é menor do que a carga tributária de medicamentos, que é de 33%, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação.

O carro da faixa de 1.0 a 2.0 paga mais: 30,4%, mesmo assim, bem menos do que um celular (39,8%), um notebook (38,6%) ou uma calças jeans (38,5%).

Os carros acima de 2 litros, que recolhem o imposto mais alto (33,1% para motor flex), representam apenas 1,7% das vendas. Mesmo assim, pagam menos do que geladeira (46,2%), máquina de lavar (42,7%) ou refrigerante diet (53,0%), binóculos (51,8%) e gravador de áudio (52,2%).

Isso sem falar de um produto genuinamente nacional, com 40 mil fabricantes que produzem 4.124 marcas e cuja indústria gera 600 mil empregos diretos: a cachaça, produto consumido pela grande maioria da população e que amarga a maior carga tributária do País: 81,9%.

Comerciais leves recolhem 27,3% de imposto, menos do que uma colomba pascal, tributada em 38,7%. A tarifa dos ônibus (16,9%) é menor do que a da carne (17,5%) e os caminhões (18,7%) pagam quase o mesmo que uma cadeira de rodas (18%), enquanto os tratores (12%) têm carga tributária menor do que o arroz e o feijão (15,3%).

Como argumento para solicitar redução de impostos, os fabricantes apontam países onde a carga tributária é bem menor do que a brasileira, mas ignoram os países que cobraram impostos mais altos.

No final do ano passado, o total da carga tributária brasileira bateu recorde, atingindo 35% do PIB. Esse índice é inferior ao cobrado em países que também são grandes fabricantes de veículos, como Alemanha (40,6%), Itália (42,6%) e França (44,6%).

Países como Bélgica (46,8%), Dinamarca (49,0%), Islândia (40,4%), Finlândia (43,6%) e Áustria (43,4%), dentre outros, também têm uma carga tributária maior do que a brasileira (veja a lista) e, ao contrário do Brasil, são países desenvolvidos, com todas as suas necessidades básicas atendidas e não precisam investir o dinheiro público em infraestrutura, cuja falta no Brasil os empresas tanto reclamam.

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