Do mercado internacional ao lucro dos postos: economista detalha formação do preço da gasolina
Os preços dos combustíveis são um tema de extrema relevância social. Por impactarem os diversos setores da economia e, consequentemente, o orçamento familiar, despertam o interesse de boa parte da população. E como a maioria dos veículos em circulação no país são flex, e a gasolina é mais vendida que o etanol, questões que envolvem o combustível fóssil acabam ganhando uma notoriedade ainda maior.
Um deles é o processo de formação dos valores que chegam às bombas para o consumidor final. Ele é composto por várias etapas e, estas, por sua vez, geram muitas dúvidas. “Afinal, como chegou a esse preço a gasolina?”, é um dos questionamentos que o Garagem Sergipe mais recebe de seus seguidores.
Para abordar esse assunto, convidamos o economista Márcio Rocha, que fez questão de expressar suas considerações de forma detalhada sobre o tema. Ao contrário dele, o Sindicato dos donos de postos (Sindpese), mais uma vez optou por não se pronunciar. Continuamos à disposição.
“UM PROCESSO COMPLEXO”
Conforme o especialista, desde a extração do petróleo até a venda nos postos, a formação do preço da gasolina é um processo complexo e influenciado por diversos fatores. “A começar pela refinaria, onde o valor é definido por uma série de variáveis, incluindo o custo do petróleo, que é a matéria-prima básica para a produção de gasolina”, afirma Márcio Rocha. Por falar nisso, atualmente, o valor do litro da gasolina na Refinaria de Mataripe (BA), que abastece Sergipe, custa R$ 2,92.
“As oscilações no preço do barril de petróleo no mercado internacional têm um impacto direto no custo de produção. Isso também contempla gastos com energia, mão de obra, manutenção de equipamentos, além de outros insumos necessários para o processo de refino”, explica o economista, destacando ainda que sempre terá também a base de retorno sobre o investimento da refinaria, ou seja, o lucro.
“As empresas refinadoras precisam garantir uma margem de lucro para manter suas operações e investir em novas tecnologias”, reitera.
FATORES QUE ENCARECEM O VALOR NAS BOMBAS
Ao sair da refinaria, a gasolina já está sujeita a diversos impostos, que variam de acordo com a região e o tipo de combustível. E o economista esclarece que os principais impostos nessa etapa são: PIS/PASEP, COFINS e CIDE. “A parte da arrecadação de impostos federais incide sobre a produção e comercialização da gasolina, aumentando significativamente o seu valor ao consumidor”, afirma Rocha.
O problema é que as cobranças não param por aí, segundo ele. Isso porque no caminho da distribuidora para os postos de gasolina, outros custos e impostos são adicionados ao preço do combustível. Nessa etapa, de acordo com o economista, a formação do preço da gasolina é influenciada também por outras variáveis, como o transporte da gasolina da distribuidora para os postos, que gera custos com logística, fretes e seguros.
“Também contempla a margem de lucro das distribuidoras, que como são um oligopólio composto por três distribuidoras que dominam o mercado nacional, colocam a margem que querem para que o revendedor pague. Isso encarece ainda mais o preço do combustível”, detalha Márcio.
MARGEM DE LUCRO DE POSTOS
Quando a gasolina chega aos postos, Márcio cita que há mais fatores que são levados em consideração para as empresas estabelecerem um valor de venda, a exemplo do ICMS, dos gastos com a estrutura e a margem de lucro. “Aí chega o ICMS. Esse é um imposto estadual que incide sobre a circulação de mercadorias e serviços, incluindo os combustíveis, em um valor fixo de R$ 1,22”, aponta Márcio.
Sobre a margem de lucro do posto de combustíveis, Márcio Rocha acredita que não seja muito alta. “Até porque a maioria tem custos fixos muito altos. Hoje, creio que a margem líquida é de 4% do preço final, já que o valor bruto se aproxima de 16 a 20%, dependendo da estrutura do posto, que é cara para se manter”, analisa o economista.