Autopeças mostram sinais de desaceleração: queda nos mercados de reposição e exportação preocupa o setor

5 Min Leitura

O setor brasileiro de autopeças começa a sentir os efeitos de uma desaceleração que atinge tanto o mercado interno de reposição quanto o de exportações. Embora o acumulado do ano ainda seja positivo, a curva de crescimento vem perdendo força nos últimos meses, segundo dados mais recentes divulgados pelo Sindipeças, entidade que representa os fabricantes do setor.

Agosto confirma tendência de retração

O Sindipeças atualizou os dados da pesquisa conjuntural realizada mensalmente junto a 63 fabricantes de autopeças de todos os portes e regiões do país. Os números apontam que, até agosto, houve uma desaceleração no ritmo de crescimento dos segmentos de reposição e exportação.

Agosto foi considerado um mês mais fraco para o setor: o faturamento caiu 3,9% em relação a julho, com apenas uma leve alta de 2,1% na comparação com o mesmo mês de 2024 — resultado sustentado principalmente pelas vendas para montadoras.

Mesmo com a perda de fôlego, o acumulado de 2025 segue positivo: alta nominal de 10,9% e crescimento real de 7,6%. No entanto, o índice de expansão interanual vem caindo e, conforme o levantamento, todos os canais de venda apresentaram variações negativas em agosto, indicando uma piora generalizada.

Reposição em marcha lenta

O mercado de reposição, tradicional pilar de sustentação do setor, vem apresentando menor dinamismo. Oficinas e redes de distribuição relatam redução no fluxo de pedidos, reflexo de consumidores que adiam manutenções ou optam por peças mais baratas. Essa retração impacta diretamente fabricantes que dependem de volumes contínuos para garantir escala e margens.

Segundo dados acumulados do próprio Sindipeças e do Novo Varejo Automotivo, o segmento de reposição ainda registra crescimento de 10,8% no ano, mas com ritmo menor desde junho, o que reforça a leitura de um arrefecimento progressivo da demanda.

Exportações perdem tração

O desempenho das exportações também reflete o cenário de cautela. Após um primeiro semestre aquecido, os embarques de autopeças desaceleraram, afetados por valorização do real, aumento dos custos logísticos e concorrência internacional — especialmente de fornecedores asiáticos com preços mais competitivos.

Mercados tradicionais como Argentina e México seguem comprando em volumes menores, e os contratos com países da América do Sul têm sido renegociados com prazos mais longos e margens reduzidas.

Pressões estruturais e custos elevados

O setor enfrenta uma combinação de fatores que explica a perda de ritmo:

Câmbio desfavorável para exportadores;

Aumento dos custos de insumos e energia;

Elevação das despesas com transporte e armazenagem;

Maior competição com peças importadas e alternativas de menor preço;

Desaceleração da demanda interna, em meio a juros altos e poder de compra limitado.

Esses elementos resultam em ociosidade fabril crescente, redução na produção e renegociações entre fabricantes, distribuidores e montadoras para ajustar estoques e preservar caixa.

Estratégias para conter os efeitos

Diante desse cenário, as empresas de autopeças buscam alternativas para manter competitividade e mitigar impactos. Entre as estratégias mais adotadas estão:

Diversificação do portfólio com foco em peças de maior valor agregado e componentes para veículos elétricos e híbridos;

Automação industrial e digitalização de processos para reduzir custos;

Acordos de fornecimento de longo prazo com montadoras, garantindo previsibilidade de produção;

Pleitos por incentivos fiscais e políticas de estímulo à exportação, defendidos por entidades setoriais como o Sindipeças.

Perspectiva para o último trimestre

Apesar da desaceleração, o balanço do ano ainda deve fechar positivo. No entanto, o setor trabalha com projeções mais modestas para o quarto trimestre, devido ao enfraquecimento da demanda e à queda do ritmo de exportações.

A expectativa é que novos investimentos em inovação e o avanço gradual da eletrificação automotiva abram espaço para retomada em 2026. Até lá, a palavra de ordem no setor de autopeças é cautela.

Compartilhe este artigo